sexta-feira, 6 de julho de 2012

Artigo Afonso Motta

O PLANO SAFRA

O Governo Federal liberou recursos de R$ 115 bilhões para financiar os agricultores, através do Plano Agrícola e Pecuário. A expectativa era sobre o anúncio da queda substancial na taxa de juros, já que a mesma para o crédito em geral vem caindo expressivamente. Não foi bem o que aconteceu, porque entre os recursos destinados ao custeio, para a compra de fertilizantes, sementes e defensivos e os financiamentos de investimento, máquinas agrícolas, irrigação e armazenagem ocorreram diferentes precificações de taxas, que ainda não garantem a substancial e necessária redução dos juros. Já que no País não temos uma política de subsídio como acontece com a agricultura européia e americana, o benefício tem de se traduzir pelo crédito, assegurando aos produtores juros negativos. Esta atividade, se estimulada, pode oferecer retornos mais rápidos para incrementar a economia. A questão é saber se uma redução formal de juros de 6,75% para 5,5% para a agricultura está adequada. A novidade do Plano foi o olhar do governo para os médios produtores, identificados como 800 mil em todo o território nacional e com renda líquida entre 1 e 4 mil reais por mês. Para se ter uma idéia, o mediano responde por 15% do valor bruto da produção, enquanto o empresarial com 75% e o familiar com os restantes 10%. Também os médios agora estarão contemplados pelo Pronamp que amplia o crédito e os limites para obtenção dos financiamentos. A decisão de proteger os médios produtores para que sobrevivam sem a venda da propriedade aos produtores maiores, ou agora, com a presença de investidores estrangeiros que buscam terras no Brasil, esbarra na burocracia e na demora das liberações. Os pequenos por meio do Pronaf e os grandes por sua capacidade em elaborar projetos e operar especialmente com o Banco do Brasil, têm o pleno atendimento de seus pleitos, já que seus procedimentos alcançam os resultados esperados. Já o perfil médio não recebe a atenção devida. Com este novo enfoque explicitado pela Presidenta da República e valorizado no programa se espera que tenham suas demandas respondidas com celeridade. Apesar das críticas pela timidez dos incrementos ao Plano Safra e da pequena redução na taxa de juros, pelo menos dois aspectos estão sendo bastante valorizados. Em primeiro lugar, o seguro rural que amplia a proteção ao crédito e patrimônio dos agricultores. Em segundo, a qualificação dos preços mínimos em especial para o milho. Mesmo que o processo de garantia dos preços se efetive através de Aquisições do Governo Federal e outros instrumentos bancários, normalmente submetidos a critérios orçamentários que só funcionam sob pressão, é importante que o tema da garantia de preços da produção continue em evidência até o aprimoramento da política pública sobre a matéria. Na realidade, o objetivo do Plano é assegurar ao País a colheita de 170 milhões de toneladas de grãos na próxima temporada. Sendo assim, considerando-se o Plano Safra e as gestões paralelas que estão sendo desenvolvidas aqui no Rio Grande do Sul para a prorrogação das dívidas que se vencerão proximamente e o trato adequado do endividamento dos produtores, poderemos, dizer  que a política pública para o setor rural está conquistando um novo paradigma. Muitos continuarão sendo os desafios, porque a dinâmica global consagra a produção de alimentos como um ativo estratégico imprescindível, com desdobramentos no tema da terra, sua função econômica e social, meio ambiente, sustentabilidade e em toda as relações de trabalho. Mas, certo é que sem crédito, juros baixos, seguro e preço mínimo não é possível produzir.

Afonso Motta
Advogado, produtor rural e
Secretário de Estado

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